terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Amazonia Pulmão do Mundo, Sim ou Não?

Para os ecólogos, um ecossistema no estágio de clímax, como a Floresta Amazônica, é estável no que se refere à produção e ao consumo de alimento. Em outras palavras, tudo o que o ecossistema produz é consumido por ele mesmo. A fotossíntese global e a respiração total do ecossistema estão em equilíbrio; o gás carbônico produzido na respiração é consumido na fotossíntese, enquanto que o oxigênio que a fotossíntese libera é consumido pela respiração de todos os organismos da Floresta. Essa idéia, obviamente, contradiz a noção antiga de que a Floresta Amazônica seria o "pulmão do mundo", no sentido de ser um importante fornecedor de oxigênio para a atmosfera de nosso planeta.
A idéia hoje aceita de que a Floresta não é o pulmão do mundo sofreu alguma contestação ultimamente. Foi realizado um interessante trabalho por um grupo de 11 pesquisadores, entre os quais três brasileiros, Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Antônio C. Miranda e Heloísa S. Miranda, da Universidade de Brasília. Acredita, esse grupo, que o aumento da taxa de gás carbônico atmosférico que vem se verificando nos últimos anos poderia estar, na realidade, incrementando a taxa de fotossíntese na Floresta Amazônica, o que resultaria em aumento da biomassa. Os pesquisadores trabalharam numa região de floresta tropical virgem, situada na Reserva Biológica do Jaru, em Rondônia. Fizeram medidas precisas do fluxo de gás carbônico, de vapor de água e de calor, tanto num período seco (em setembro de 1992) como num período chuvoso (de abril a junho de 1993). Essas medidas foram feitas em uma torre, 15 metros acima das copas das árvores, abrangendo a medição uma área aproximada de 1 km2.
Os resultados obtidos mostraram claramente que o ecossistema, no período estudado, absorveu mais gás carbônico (portanto, fez mais fotossíntese) do que produziu (por respiração e decomposição). Dos 44 dias de medição durante a estação chuvosa, 33 apresentaram fluxo de CO2 da atmosfera para a floresta; os outros 11, em que o sistema perdeu carbono, coincidiram com dias frios, nublados e com ventos. Cálculos feitos pelo grupo estimam que, pelo menos na região estudada, a taxa de absorção de carbono equivaleria à produção anual de duas toneladas de biomassa por hectare. Extrapolando os resultados para toda a Amazônia, calcula-se que um acúmulo de mais ou menos duas toneladas por ano e por hectare deveria dobrar a biomassa da Floresta a cada cem anos!
Na realidade, os próprios autores reconhecem que as condições existentes na área de 1 km2 de Floresta estudada não serão necessariamente idênticas às da bacia amazônica inteira, que ocupa uma área total de cerca de 5 milhões de km2, e concordam que a extrapolação é pelo menos muito arriscada. Haveria a necessidade de pesquisar vários outros pontos da Floresta, eventualmente durante um período mais longo, para se ter uma idéia mais precisa de como ela, como um todo, reage ao aumento da taxa de CO2 no ar. De qualquer maneira, o que podemos dizer sem medo de errar é que, pelo menos em algumas regiões da Floresta Amazônica, a produção de biomassa é maior do que seu consumo; isso implica, evidentemente, retirada de gás carbônico do ar e produção de oxigênio, o que talvez justificaria, parcialmente, o nome de "pulmão do mundo".
Texto adaptado pelos professores César, Sezar e Bedaque
de um artigo da seção ECHO-BRAZIL,
da revista Ciência Hoje, de 1996.
Disponível emhttp://www.editorasaraiva.com.br/eddid/CIENCIAS/biblioteca/artigos/amazonia.html acesso: 04/fev/2010

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